Muita gente com Parkinson percebe que, com o passar dos anos, caminhar vai ficando mais difícil. O passo encurta, o ritmo diminui e surge aquela sensação de “travamento” que atrapalha a rotina. Não é à toa que tantas pessoas procuram entender se a estimulação cerebral profunda — o DBS — também pode ajudar na marcha.
Um estudo grande e muito bem conduzido, publicado em 2025, trouxe respostas importantes sobre isso. Aqui, você vai entender o que realmente muda na caminhada depois do DBS.
Por que a marcha muda no Parkinson?
Caminhar parece simples, mas envolve uma orquestra de movimentos: levantar o pé, ajustar o equilíbrio, manter ritmo, coordenar os dois lados do corpo. No Parkinson, essa rede de controle do movimento perde eficiência. O resultado?
Passos menores, lentidão, insegurança e, em alguns casos, episódios de congelamento.
O que o estudo mostrou sobre DBS e marcha
O estudo acompanhou 104 pessoas com Parkinson antes e depois da ativação do DBS, avaliando a caminhada em quatro momentos: antes de ligar o estimulador, logo após ligar, depois de 1 mês e depois de 12 meses.
O que se viu foi claro:
1. Caminhar fica mais rápido logo que o DBS é ativado
A velocidade média, que era 80 cm/s no início (considerada baixa), foi para 97 cm/s logo após ligar o aparelho.
Isso é uma diferença grande, perceptível no dia a dia.
2. A melhora se mantém no longo prazo
Mesmo após 1 mês e 1 ano, a marcha continuava melhor que no começo.
3. DBS bilateral é o que realmente faz diferença
O ganho só aconteceu quando o DBS foi feito nos dois lados do cérebro.
Quando o DBS era unilateral, não houve melhora significativa — e em alguns casos houve piora.
Em resumo:
Para ajudar a marcha, DBS bilateral é o que funciona.
4. Não é só velocidade: o passo fica mais estável
Quem fez DBS nos dois lados também apresentou:
- passos mais longos
- ritmo mais regular
- menor variabilidade (menos “oscilação” entre um passo e outro)
Esses elementos são essenciais para uma caminhada mais segura.
5. A resposta inicial ao DBS ajuda a prever o futuro
Se a pessoa já melhora de marcha logo nos primeiros dias de estimulação, há grande chance de manter essa melhora ao longo do ano.
6. A resposta à levodopa nos sintomas do tronco (axiais) ajuda a prever quem vai responder melhor
Não é qualquer melhora com levodopa:
O que importa é a resposta em itens ligados a postura, equilíbrio e caminhada.
Quem melhora esses aspectos com levodopa tende a ter melhor resposta com DBS bilateral, especialmente no alvo STN.
O que isso significa na prática para pacientes e familiares
1. DBS pode ajudar sim na marcha, desde que implantado nos dois lados.
Isso não significa perfeição, mas avanços claros em ritmo, estabilidade e fluidez do passo.
2. A melhora costuma aparecer rápido.
E isso ajuda médicos a programarem melhor o aparelho nos meses seguintes.
3. Cada caso é diferente.
A idade, o tempo de doença e o tipo de sintoma axiais pesam na resposta.
4. Caminhar bem é qualidade de vida.
Melhor ritmo, menos esforço e mais segurança para sair de casa, circular e manter autonomia.
Quando buscar avaliação?
Se a marcha vem piorando — passos menores, queda no ritmo, medo de andar, sensação de travamento — e a resposta à medicação já não é satisfatória, vale conversar com o neurologista sobre avaliação para DBS.
O objetivo nunca é “curar” o Parkinson, mas recuperar mobilidade, reduzir esforço e melhorar o dia a dia.
Conclusão
A caminhada é um dos maiores desafios do Parkinson, mas a ciência mostra que o DBS pode ajudar — especialmente quando feito de forma bilateral e com boa seleção de pacientes.
Entender o que muda e o que esperar é o primeiro passo para decisões mais seguras e tranquilas.
Referência
Al Ali J, McKay JL, Nocera JR, et al. Bilateral Deep Brain Stimulation of the Subthalamic Nucleus or Globus Pallidus Internus Improves Gait Impairment in Parkinson’s Disease. Movement Disorders. 2025. Movement Disorders – 2025 – Al …