Em algum momento da Doença de Parkinson, muita gente escuta a pergunta:
“Será que já é hora da cirurgia?”
E logo vem a outra, inevitável:
“Mas isso não é caro demais?”
Neste texto, vou separar indicação cirúrgica de custo, porque misturar as duas coisas costuma gerar decisão errada.
Quando a DBS é indicada?
Isso é importante deixar cristalino: DBS não é última opção, nem é “desespero”.
Ela é indicada quando o problema não é mais a falta de remédio, e sim a instabilidade da resposta ao remédio.
Em geral, pensamos em DBS quando há:
- Flutuações motoras importantes (ON e OFF imprevisíveis)
- Discinesias que limitam a vida diária
- Tremor incapacitante que não responde bem à medicação
- Boa resposta prévia à levodopa (isso é fundamental)
- Cognição preservada ou apenas levemente comprometida
- Ausência de psicose ativa ou depressão grave não controlada
👉 Erro comum: achar que DBS é para “Parkinson muito avançado”.
Isso está incorreto.
Hoje sabemos que atrasar demais a cirurgia piora o resultado funcional.
Estudos mostram que pacientes operados no momento certo têm melhor qualidade de vida, menos complicações e mais anos úteis de independência.
DBS cura o Parkinson?
Não.
E quem promete isso está vendendo ilusão.
A DBS:
- Não interrompe a progressão da doença
- Não substitui acompanhamento médico
- Não elimina todos os sintomas
O que ela faz muito bem é controlar sintomas motores refratários e reduzir a instabilidade causada pela medicação.
E o custo? DBS x terapia medicamentosa contínua
Aqui vem a parte que quase ninguém explica direito.
Custo da DBS
- Alto custo inicial (cirurgia, eletrodos, gerador, internação)
- Custos posteriores menores e previsíveis (programações, troca de bateria)
Custo da terapia medicamentosa ao longo dos anos
- Uso crescente de múltiplas medicações
- Doses cada vez mais frequentes
- Combinações complexas
- Maior risco de efeitos adversos
- Mais internações, quedas, fraturas
- Mais dependência funcional e necessidade de cuidador
📌 Quando se olha a longo prazo, a DBS:
- Reduz custo com medicamentos
- Diminui internações e complicações
- Mantém autonomia por mais tempo
Por isso, DBS é considerada custo-efetiva em análises econômicas sérias — mesmo sendo uma tecnologia cara.
👉 Em termos simples:
remédio parece mais barato no começo, mas sai caro quando usado sozinho por anos em fases avançadas.
Então todo paciente deveria operar?
Não.
E aqui vai outra correção importante.
DBS não é para todo mundo.
Ela exige:
- Seleção criteriosa
- Avaliação neurológica detalhada
- Avaliação cognitiva e psiquiátrica
- Expectativas realistas do paciente e da família
Cirurgia mal indicada gera frustração — não milagre.
Conclusão: decisão certa não é a mais barata, é a mais adequada
DBS não é luxo, nem modismo, nem solução mágica.
Mas também não é exagero quando bem indicada.
A decisão correta:
- Não se baseia só no custo imediato
- Não se baseia no medo da cirurgia
- Não se baseia em “aguentar mais um pouco”
Ela se baseia em qualidade de vida, segurança e planejamento a longo prazo.
Se existe dúvida, o caminho não é decidir sozinho — é conversar com um neurologista que trabalhe com Parkinson avançado e com cirurgia funcional, e não apenas “prescreva mais um comprimido”.
Referências
- European Academy of Neurology / Movement Disorder Society. Guideline on invasive therapies in Parkinson’s disease.
- Deuschl G et al. A randomized trial of deep-brain stimulation for Parkinson’s disease. NEJM.
- Schuepbach WM et al. Neurostimulation for Parkinson’s disease with early motor complications. NEJM.
- Okun MS. Deep-brain stimulation for Parkinson’s disease. NEJM.
- Pietzsch JB et al. Cost-effectiveness of deep brain stimulation for Parkinson’s disease.