16 de dezembro de 2025

Cirurgia de estimulação cerebral profunda (DBS): quando indicar e quanto isso realmente custa?

Em algum momento da Doença de Parkinson, muita gente escuta a pergunta:

“Será que já é hora da cirurgia?”

E logo vem a outra, inevitável:

“Mas isso não é caro demais?”

Neste texto, vou separar indicação cirúrgica de custo, porque misturar as duas coisas costuma gerar decisão errada.

Quando a DBS é indicada?

Isso é importante deixar cristalino: DBS não é última opção, nem é “desespero”.

Ela é indicada quando o problema não é mais a falta de remédio, e sim a instabilidade da resposta ao remédio.

Em geral, pensamos em DBS quando há:

  • Flutuações motoras importantes (ON e OFF imprevisíveis)
  • Discinesias que limitam a vida diária
  • Tremor incapacitante que não responde bem à medicação
  • Boa resposta prévia à levodopa (isso é fundamental)
  • Cognição preservada ou apenas levemente comprometida
  • Ausência de psicose ativa ou depressão grave não controlada

👉 Erro comum: achar que DBS é para “Parkinson muito avançado”.

Isso está incorreto.

Hoje sabemos que atrasar demais a cirurgia piora o resultado funcional.

Estudos mostram que pacientes operados no momento certo têm melhor qualidade de vida, menos complicações e mais anos úteis de independência.

DBS cura o Parkinson?

Não.

E quem promete isso está vendendo ilusão.

A DBS:

  • Não interrompe a progressão da doença
  • Não substitui acompanhamento médico
  • Não elimina todos os sintomas

O que ela faz muito bem é controlar sintomas motores refratários e reduzir a instabilidade causada pela medicação.

E o custo? DBS x terapia medicamentosa contínua

Aqui vem a parte que quase ninguém explica direito.

Custo da DBS

  • Alto custo inicial (cirurgia, eletrodos, gerador, internação)
  • Custos posteriores menores e previsíveis (programações, troca de bateria)

Custo da terapia medicamentosa ao longo dos anos

  • Uso crescente de múltiplas medicações
  • Doses cada vez mais frequentes
  • Combinações complexas
  • Maior risco de efeitos adversos
  • Mais internações, quedas, fraturas
  • Mais dependência funcional e necessidade de cuidador

📌 Quando se olha a longo prazo, a DBS:

  • Reduz custo com medicamentos
  • Diminui internações e complicações
  • Mantém autonomia por mais tempo

Por isso, DBS é considerada custo-efetiva em análises econômicas sérias — mesmo sendo uma tecnologia cara.

👉 Em termos simples:

remédio parece mais barato no começo, mas sai caro quando usado sozinho por anos em fases avançadas.

Então todo paciente deveria operar?

Não.

E aqui vai outra correção importante.

DBS não é para todo mundo.

Ela exige:

  • Seleção criteriosa
  • Avaliação neurológica detalhada
  • Avaliação cognitiva e psiquiátrica
  • Expectativas realistas do paciente e da família

Cirurgia mal indicada gera frustração — não milagre.

Conclusão: decisão certa não é a mais barata, é a mais adequada

DBS não é luxo, nem modismo, nem solução mágica.

Mas também não é exagero quando bem indicada.

A decisão correta:

  • Não se baseia só no custo imediato
  • Não se baseia no medo da cirurgia
  • Não se baseia em “aguentar mais um pouco”

Ela se baseia em qualidade de vida, segurança e planejamento a longo prazo.

Se existe dúvida, o caminho não é decidir sozinho — é conversar com um neurologista que trabalhe com Parkinson avançado e com cirurgia funcional, e não apenas “prescreva mais um comprimido”.


Referências

  • European Academy of Neurology / Movement Disorder Society. Guideline on invasive therapies in Parkinson’s disease.
  • Deuschl G et al. A randomized trial of deep-brain stimulation for Parkinson’s disease. NEJM.
  • Schuepbach WM et al. Neurostimulation for Parkinson’s disease with early motor complications. NEJM.
  • Okun MS. Deep-brain stimulation for Parkinson’s disease. NEJM.
  • Pietzsch JB et al. Cost-effectiveness of deep brain stimulation for Parkinson’s disease.