Muita gente associa a Doença de Parkinson apenas ao tremor ou à lentidão dos movimentos. Mas a verdade é que o processo da doença começa muito antes de qualquer sinal visível. Hoje, a ciência já sabe que alterações no organismo podem estar acontecendo anos antes do diagnóstico.
Nos últimos meses, um grande estudo internacional trouxe novas pistas importantes sobre isso — e vale entender com calma o que ele realmente significa.
O que são biomarcadores?
Biomarcadores são dados biológicos mensuráveis, como exames de sangue ou urina, que podem dar pistas sobre o que está acontecendo no corpo.
Eles não fazem diagnóstico sozinhos, mas ajudam a:
- identificar riscos,
- entender melhor a doença,
- orientar pesquisas para o futuro.
No Parkinson, encontrar bons biomarcadores sempre foi um desafio.
O que esse novo estudo investigou?
Pesquisadores analisaram dados de quase 400 mil pessoas, acompanhadas por cerca de 10 anos, antes de qualquer diagnóstico de Parkinson.
Eles avaliaram dezenas de exames de sangue e urina feitos anos antes do aparecimento dos sintomas e observaram quais estavam mais associados ao desenvolvimento da doença ao longo do tempo.
Isso é importante porque evita um erro comum: confundir alterações causadas pela doença com alterações que surgem antes dela aparecer.
O que eles encontraram?
O estudo identificou um conjunto de exames que, em média, estavam mais alterados em pessoas que futuramente desenvolveram Parkinson.
Alguns se relacionavam a:
- metabolismo do açúcar,
- função hepática,
- resposta inflamatória,
- sistema imunológico,
- produção de células do sangue.
Curiosamente, alguns marcadores inflamatórios apareceram associados a menor risco, mostrando como o funcionamento do sistema imune é complexo — e ainda longe de ser totalmente compreendido.
👉 Importante: nenhum desses exames isoladamente diagnostica Parkinson.
Isso muda algo na prática hoje?
Não.
E isso precisa ser dito com todas as letras.
Esse tipo de achado não serve para rastreamento, não substitui avaliação clínica e não deve ser usado para pedir exames “preventivos” no consultório.
O valor desse estudo é outro:
- ajudar a entender quando a doença começa biologicamente,
- orientar pesquisas sobre prevenção,
- abrir caminho para estratégias futuras de diagnóstico mais precoce.
Por que isso é relevante então?
Porque o Parkinson não começa no dia do diagnóstico.
Antes dos sintomas motores, muitas pessoas já apresentam:
- alterações do sono,
- constipação intestinal,
- perda do olfato,
- mudanças sutis no humor ou na cognição.
Estudos como esse reforçam a ideia de que existe uma fase silenciosa da doença, e que no futuro talvez seja possível agir mais cedo — com mais chance de preservar qualidade de vida.
O que fica de mensagem para pacientes e familiares?
- Parkinson é uma doença complexa e gradual.
- A ciência está avançando, mas com cautela.
- Nem toda novidade vira exame ou tratamento imediato — e isso é normal.
- Informação de qualidade ajuda a reduzir medo e falsas expectativas.
Buscar acompanhamento médico, observar mudanças no corpo e manter diálogo aberto com o neurologista continuam sendo as atitudes mais importantes.
Referência
Gao S, Wang Z, Huang Y et al. Early detection of Parkinson’s disease through multiplex blood and urine biomarkers prior to clinical diagnosis. npj Parkinson’s Disease, 2025.