Introdução
O sono costuma ser uma das queixas mais persistentes na Doença de Parkinson. Acordar várias vezes à noite, sentir o corpo travado na cama ou ter sonolência intensa durante o dia são sintomas que afetam muito a qualidade de vida.
Mas será que a estimulação cerebral profunda (DBS) do núcleo subtalâmico melhora o sono?
Um estudo recente publicado em Movement Disorders Clinical Practice (2025) avaliou com detalhe essa questão — e trouxe respostas importantes.
O que o estudo mostrou
O trabalho acompanhou pacientes com Parkinson submetidos ao DBS do núcleo subtalâmico (STN) por 12 meses e analisou parâmetros de sono, sonolência e marcadores biológicos ligados ao ritmo circadiano.
Os principais achados foram:
- Melhora da sonolência diurna após o DBS, especialmente quando a estimulação envolvia áreas límbicas do STN — regiões associadas ao controle da vigília e do alerta.
- Aumento da eficiência do sono e da qualidade percebida do descanso nos primeiros seis meses pós-cirurgia.
- Aumento do tempo total dormido ao longo do primeiro ano, possivelmente por melhora dos sintomas motores noturnos.
- Nenhuma alteração significativa na expressão dos “genes do relógio” no sangue, indicando que a melhora não decorre de mudanças diretas no ritmo circadiano, mas sim da modulação de redes neurais envolvidas no movimento e no estado de alerta.
- Redução da dose total de dopamina (LEDD), o que pode diminuir sonolência induzida por medicamentos e favorecer um sono mais natural.
Por que o sono melhora
O DBS do núcleo subtalâmico atua sobre circuitos que integram movimento, emoção e regulação do sono.
Com a estimulação adequada, o cérebro tende a:
- Reduzir rigidez e travamentos noturnos, diminuindo despertares.
- Promover melhor transição entre sono e vigília.
- Diminuir sonolência excessiva durante o dia.Esses ganhos ocorrem de forma mais evidente nos primeiros seis meses, podendo estabilizar depois conforme a evolução natural da doença e fatores externos (como noctúria, dor ou apneia).
Limites e interpretações
A pesquisa mostra que o benefício no sono não é automático nem uniforme.
Fatores como localização exata dos eletrodos, configuração da estimulação, mudanças de medicação e doença concomitante (ansiedade, depressão, apneia do sono) influenciam fortemente os resultados.
Mesmo assim, o DBS se mostrou uma ferramenta capaz de melhorar tanto o repouso noturno quanto o estado de alerta diurno em boa parte dos pacientes avaliados.
Conclusão
A estimulação cerebral profunda do núcleo subtalâmico pode trazer mais do que controle motor — ela também melhora aspectos importantes do sono, como sonolência diurna, eficiência e tempo total dormido, principalmente nos primeiros meses após a cirurgia.
A longo prazo, manter bons hábitos de sono, tratar sintomas não motores e ajustar parâmetros do DBS são passos essenciais para preservar esses benefícios.
Referência
Steinhardt K, Skogseid I, Skogestad IJ, Toft M, Tysnes OB, Alves G, et al. The Impact of Deep Brain Stimulation of the Subthalamic Nucleus on Sleep. Movement Disorders Clinical Practice. 2025;12(1):xx–xx. doi:10.1002/mdc3.XXXXX.