8 de maio de 2025

DBS para Parkinson: não é mágica, é ciência – e escolha certa faz toda a diferença

Dados do contexto brasileiro, coletados em estudo de longa duração, reforçam relação entre escutar pior e sofrer perdas cognitivas. Pesquisadoras enfatizam necessidade de prevenção da perda auditiva, especialmente na meia-idade

Se você ou alguém próximo vive com Doença de Parkinson, provavelmente já ouviu falar da cirurgia de estimulação cerebral profunda, ou DBS. Parece coisa de ficção científica: colocar eletrodos no cérebro e, de repente, os tremores diminuem, os movimentos melhoram… Mas calma lá. Não é milagre. É tecnologia de ponta – e, como toda boa ferramenta, ela só funciona bem nas mãos (e cérebros) certos.

Então vamos direto ao ponto: quem é um bom candidato para o DBS? E o que esperar da cirurgia?

Nem todo mundo é um bom candidato. E tá tudo bem.

Primeiro: DBS não é pra todo mundo. Os estudos mostram que cerca de um terço dos perfis clínicos teóricos de pacientes com Parkinson seriam considerados apropriados para DBS. Ou seja: não é porque o tratamento existe que ele serve pra qualquer um. E tudo bem! O importante é fazer essa escolha com critério.

O que o bom candidato precisa ter?

As diretrizes internacionais são claras. Os bons candidatos geralmente:

  • Têm diagnóstico confirmado de Parkinson idiopático (aquele Parkinson “clássico”, com resposta boa à levodopa);
  • Sofrem com flutuações motoras, tremores ou discinesias que atrapalham a vida, apesar de estarem tomando a medicação direitinho;
  • Ainda respondem bem à levodopa – isso é chave!;
  • Não têm demência ou transtornos psiquiátricos graves não controlados;
  • Estão em boas condições clínicas para encarar uma cirurgia.

A idade? Sozinha, não é fator de exclusão. Mas pacientes mais jovens tendem a se beneficiar mais. Já aqueles com sintomas axiais (como instabilidade postural ou quedas) que não melhoram com levodopa, ou com comprometimento cognitivo moderado, geralmente têm menos ganhos com o DBS.

O que esperar?

Aqui é onde muita gente se engana. DBS não cura o Parkinson. Mas pode melhorar e muito a qualidade de vida, especialmente nas áreas de atividades do dia a dia, desconforto corporal e estigma. Os sintomas motores tendem a melhorar, o uso de medicamentos geralmente diminui (especialmente no alvo subtalâmico – STN), e muitos pacientes relatam maior autonomia.

Mas não espere milagre: apatia, dor e depressão, se não forem bem tratadas, podem atrapalhar o resultado. Inclusive, nos dados mais recentes, redução da dor e da apatia foram os principais preditores de melhora na qualidade de vida após DBS. É isso mesmo: tratar bem a dor e dar atenção ao lado emocional do paciente é tão importante quanto a cirurgia em si.

Alvo importa?

Existe muita discussão sobre qual alvo escolher: núcleo subtalâmico (STN) ou globo pálido interno (GPi). Na prática, ambos funcionam. O STN tende a permitir mais redução de medicação, enquanto o GPi pode ter menos impacto cognitivo em idosos. Mas um estudo grandão e bem feito mostrou que a melhora na qualidade de vida foi parecida nos dois grupos, inclusive entre pacientes mais frágeis. Ou seja, o importante mesmo é escolher o alvo com base no perfil do paciente.

Expectativas realistas, por favor!

Quem entra no DBS achando que vai voltar a ser como era antes da doença pode se frustrar. O ganho é real, mas tem limites. O paciente precisa entender que alguns sintomas (como fala, marcha, memória) podem não melhorar. Em alguns casos, podem até piorar se não houver acompanhamento cuidadoso. E os efeitos positivos costumam aparecer semanas ou meses após o início da estimulação – não é apertar o botão e sair dançando.

Em resumo: DBS não é milagre. Mas pode ser um baita avanço.

Se bem indicado, feito no tempo certo e com expectativas alinhadas, DBS muda vidas. Mas tudo começa com a escolha certa do candidato. E isso envolve avaliação detalhada, testes com levodopa, análise neuropsicológica, conversa sobre expectativas… Enfim, é uma decisão compartilhada, séria – e cheia de esperança.

Se você está pensando em DBS ou conhece alguém que está nesse caminho, procure um centro especializado, converse, tire dúvidas e vá com calma. Porque no fim das contas, mais do que tecnologia, o que faz diferença é o cuidado.